O rock da terra do brega melody.

Um grande desafio organizar uma coletânea com à produção paraense rock independente.
Um álbum virtual com vários projetos de diferentes estilos. O destaque  é a qualidade da produção, composição e letras.

Durango95 Rock Paraense

Os ritmos são variados, com o blues, o instrumental com pegada de rock progressivo, o experimental, folk com letras temáticas, sem esquecer o pop rock dos anos 80 repaginado ou ainda com uma boa mistura de mpb, além do hard rock com mistura do powerpop, como também o indie rock mais próximo do eletrônico produzido na última década. A criatividade de uma cena urbana rica de diversidade cultural.

Claro, organizar uma coletânea não é fácil, até para um estado com as dimensões como o Pará, mas valeu o desafio.

“Quase 8 anos de banda aprendemos a sobreviver a nós mesmos”. Entrevista com Sammliz – Madame Saatan.

Heavytrash metalhard core, Madame Saatan é mais do que uma simples definição para o rock paraense. A banda formada por Sammliz (voz), Icaro Suzuki (baixo), Edinho Guerreiro (guitarra) e Ivan Vanzar (bateria) é, referência à parte,  um show explosivo com  pegada rock’n’roll.

Madame Saatan

Longe da terrinha, Belém/Pa, a trupe de Sammliz escolheu São Paulo para ganhar um horizonte maior. O som ganhou forma, novas influências e o reconhecimento do público local aumentou.  Neste embalo de  rock, descobertas e som pesado, uma ótima entrevista para o blog  com  Sammliz ( Vocalista ).

Rio, pontes e overdrivres: A cena rocker no Pará cresce cada vez mais do ponto de vista quantitativo. O Madame SaatanEuterpiaCravo Carbono, entre outros, eram as referências musicais da terra em diferentes estilos. Hoje você acredita que falta bandas com qualidade para assumir a expressão e ser, digamos, “a cara da cena”? Repetir uma época em que bandas autorais movimentavam a cena independente com mais empenho, consideradas “cavalos de batalha” do período?

Sammliz: Cada geração vive o que lhe cabe no momento e querer que as coisas funcionem sempre do mesmo jeito é impossível . O ciclo se alterna entre fases boas e outras consideradas nem tão prolíficas, mas o fato é que elas jamais se repetirão. A época de ouro do Waldemar Henrique, o 24 Horas na Praça da República e todas aquelas bandas ícones constarão sempre nas memórias de quem as viveu ou ouviu falar. Faz parte da história do rock paraense. Somos crias desse passado e vivemos a geração citada por você acima junto a Euterpia, Cravo Carbono, Eletrola, Suzana Flag, entre outros. Engraçado que parece que foi há um tempão e fazendo as contas já é mesmo, não é? Como tudo passa rápido… Bem, acho que Belém nunca sofreu carência de banda no que se refere a quantidade, cidade pra fazer brotar banda de rock é essa, mas nem sempre ela é tão fecunda e isso é assim mesmo. Acho que hoje o rock não está isolado, ele faz definitivamente parte da cena cultural no Estado e não acho que faltem bandas com qualidade para dar uma “nova cara” a cena rocker no Pará. Todas são cavalos de batalha em busca de um lugar ao sol, desde as veteranas até as novatas. A “cara da cena” é essa miríade de bandas, artistas, agitadores, produtores, festivais grandes e pequenos, festas e o público novo que vem chegando junto. Vejo muita gente querendo audaciar, fazendo, produzindo e começando a dar a cara pra bater. Da música popular ao rock.

Rio, pontes e overdrives: A mudança para São Paulo, um grande eixo musical e cultural, a proximidade com grandes festivais e uma cena mais fervilhante – quais foram as influências positivas para o som da banda? Qual o reflexo desse choque cultural e a adaptação para um novo público?

Sammliz: As influências positivas vieram exatamente das dificuldades que acompanharam nosso processo de mudança. Mesmo com as portas abertas que tivemos logo na chegada em SP passamos por um período complexo onde tivemos que nos readaptar a nós mesmos vivendo em uma situação nova e por isso estressante. Em relação ao público foi tranquilo já que ele costuma ser sempre caloroso (isso é do público do Brasil mesmo, penso eu). Quanto a influência no som da banda certamente a nova vida o afetou de forma positiva já que naturalmente amadurecemos. Nossas referências musicais de casa vieram conosco no sangue mas obviamente 3 anos em uma nova cidade, vivendo coisas novas, ouvindo e sentindo o que se apresentou tiveram profunda influência.

Rio, pontes e overdrives: Amadurecer, tocar e fazer rock é o desejo de todos os jovens. OMadame Saatan ganha cada vez mais público de novas gerações, fã clube organizado e admiração. Qual seria a lição ou a grande descoberta desse período para manter sempre vivo o Madame Saatan?

Sammliz: Quase 8 anos de banda aprendemos a sobreviver a nós mesmos. Como em qualquer família ou empresa que passa por momentos bacanas, uns nem tanto e outros bem ruins. Jamais será fácil e se estamos nessa missão de fazer música juntos até agora é por que a gente realmente funciona bem como amigos, sócios e companheiros na alegria e na tristeza. Também acho que o bom humor e nosso espírito meio workaholic salvou nossa pequena nação, assim como a sorte de sempre encontrar gente de naipe incrível em nossa jornada que nos ajudaram e ajudam de alguma forma.

Rio, pontes e overdrives: Qual a maior influência, ou entenda como lição, que o Madame Saatan poderia deixar para cena paraense e as bandas autorais?

Sammliz: Não podemos dar lição até porque estamos aprendendo em meio ao processo e que tipo de influência a gente poderá vir, ou não, a exercer em outros que estão na mesma missão em nossa cidade eu realmente ainda não sei. Cada qual traça e vive sua história única. O que posso dizer é que qualquer coisa é possível desde que se trabalhe pra isso com uma dose cavalar de comprometimento. Se vai se jogar de cabeça em um projeto que o faça de verdade ou conviva com uma eterna ponta de frustração a vida toda. Se quer ser músico, ter banda, beleza…. vá! Mas vá com força, tente tudo e da melhor forma possível. Estude, toque com gente melhor que você, conheça, viva o estilo de vida e veja se é isso mesmo. Aprenda a se autoproduzir, aja com honestidade, faça shows como se não houvesse um amanhã, não culpe o governo, não reclame de falta de espaço, falta de apoio e deixe de mimimi. Em suma: se vira, cabôco!

Madame Saatan

Rio, pontes e overdrives: Um novo disco em breve. Quais são as novidades do Madame Saatan com esse álbum?

Sammliz: O disco já foi gravado e está na fase da mixagem. Não deve demorar tanto o lançamento, que acontecerá em Belém, e o que posso dizer sobre o álbum é que ele virá mais pesado.

Edição do texto por Filipe Larêdo.

Novo clip da banda, primeiro single do disco “Homem peixe”, respira, veja:

Por que fingir que não gosta, se no seu quarto você balança: Documentário Brega S/A.

“Por que fingir que não gosta
Se no seu quarto você balança
Quando ouve (toca) um brega, você
Não resiste e dança”

Vida de Cantor – Wanderley Andrade.

É ilusão do empirismo. Não reconhecer as atividades,  forma de sobrevivência e de busca de dignidade por parte de milhares de jovens abandonados pela sociedade e pela política oficiais ( Belluzo, 2002) . A  cultura “des” organizada da periferia para o centro urbano.  Sem números, nem forma de mensurar, impossível dimensionar o tamanho da riqueza produzida. Aparelhagem ricas, djs com ar de pop star e uma industria perversa com o músico. Onde poucos ganham, mas todos perdem. Isso é ouro bruto, assim como Serra Pelada, cercada de aproveitadores e longe de uma gestão eficiente. Alguns chamam de cultura paraense, mas a verdade, é uma indústria que desafia até a lógica.

Um período recente da cultura da periferia de Belém. O Documentário Brega S/A consegue captar todo o universo e  com riqueza de detalhes. Sem rótulos e a criação de ídolos, heróis ou vanguarda (você define), mas um olhar sobre a manifestação cultural da periferia.

Referências:

Belluzo, Luiz Gonzaga de Mello. Desenvolvimento em crise. A economia brasileira no último quarto do século XX. São Paulo. UNESP/ UNICAMP, 2002.

Aeroplano, estou bem mesmo sem você.


Mais de cinco anos ficaram para trás desde que o Aeroplano subiu ao palco pela primeira vez em algum boteco falido moralmente, numa noite quente dessas típicas de Belém, em que a chuva se arruma toda, mas não cai uma gota do céu. O “Aero” é uma das boas bandas paraenses e bem recomendas para os saudosistas da década de 90. As influências fortes do grunge e bandas de Seatle, E.U.A. Nada mal, para uma época marcada por canções sem o compromisso de fazer embarcar na angústia humana.


Videos:

Estou bem mesmo sem você “

Estou bem mesmo sem você, que reflete com propriedade o que é a cara da banda atualmente. Algo como um anti-hit obscuro e melodioso sobre o fracasso dos relacionamentos diante do desgaste inafastável que o tempo causa.

Tanto tempo (No escuro).

| Edição e revisão por Filipe Larêdo.|

“Nossa maior dificuldade até hoje é o público que não quer pagar ingresso”. Entrevista com Marcelo Damaso – Se Rasgum.

Los Porongas – Festival Se Rasgum

O original desta entrevista está no  blog do Durango95′. Abaixo o link para acesso.

Um militante da cena independente e autoral. Rio, pontes e overdrives entrevistou um dos maiores produtores culturais paraenses: Marcelo Damaso, Ele com um grupo de amigos tiveram a iniciativa de criar à Dançum Se Rasgum Produciones, a qual figura entre um dos mais importantes grupos do circuito nacional. Em 8 anos de atividade, o Se Rasgum  produziu atrações nacionais e internacionais, o maior destaque para seu principal evento, o festival, realizado no segundo semestre de cada ano. Sem mais firulas, uma boa entrevista do “Rio, pontes e overdrives” com o produtor do festival.

Rio, pontes e poverdrives – Um dos maiores festivais de música independente do Brasil. O festival Se Rasgum chega a mais uma edição, no próximo semestre. O que podemos esperar de novidades? A ideia de seletivas, jurados e cada vez maior transparência e ecletismo maior de estilos?

Marcelo Damaso – De novidades que podemos adiantar é o local, o Hangar. O novo Governo finalmente está apoiando iniciativas que se estabeleceram nos últimos cinco anos dessa cidade, como o Festival Se Rasgum. Mas para a programação será o que se espera todo ano: novos nomes da música brasileira, cultura regional, resgate de nomes consagrados para o novo público, um pouco de ousadia e muitos shows bons. As seletivas desse ano serão bem maiores que do ano passado, e fomos até o interior pela primeira vez para tentar trazer novos nomes para o Festival Se Rasgum.

Rio, pontes e overdrives – Quais foram as maiores dificuldades do Se Rasgum no período para organizar um festival diversificado, planejar, manter um nome e ganhar cada vez maior evidência?

Marcelo Damaso – Nossa maior dificuldade até hoje é o público que não quer pagar ingresso. Todo mundo adora o Festival, quer ver ele acontecer todo ano, mas não gosta de pagar ingresso. Em cinco anos de Festival Se Rasgum nós NUNCA ganhamos dinheiro. NUNCA! Isso sim cansa e faz com que as coisas realmente se enfraqueçam.


Rio, pontes e overdrives – É um desafio organizar um festival com dimensão do Se Rasgum e lidar com uma cultura urbana cheia de peculiaridades, o que faz com que esse hibridismo na escolha das atrações dê certo no final das contas? Achas que a cultura paraense roqueira gosta ou aceita essas misturas?

Marcelo Damaso – Roqueiro bom é o que tem cabeça aberta. Ser radical é burrice, é se cercar de conceitos que vão te deixar limitado e não vão te fazer avançar em nada. A gente não tenta liderar nenhum movimento ou fazer com que as pessoas sejam obrigadas a aturar o que nós trazemos. Eu não entendi o que tu falaste com cultura urbana cheia de peculiaridades. Eu vejo no Pará uma cultura popular muito peculiar, cheia de riquezas e originalidade que precisam continuar vivas e aparecer mais para o resto do Brasil. É assim que o Festival Se Rasgum pensa.

Festival Se Rasgum

Rio, pontes e overdrives – A estrutura física para a realização de um festival é mais complicada do que parece? Como é escolhido o tipo de equipamento ou pessoas aptas a manusear o som? Depende do pedido da banda ou não?

Marcelo Damaso – É bem complicada sim, mas algo que depois que se faz mais de duas vezes já começa a ficar fácil. Temos bons profissionais em Belém e procuramos trabalhar com os mesmos todos os anos, que tentam atender às demandas dos riders dos artistas que vem de fora. Raramente temos problema com equipamento aqui.

Rio, pontes e overdrives – Sendo o Se Rasgum uma empresa também, é difícil administrar um negócio desse tipo? Qual a sensação de ver esse processo de crescimento traduzido em resultados, como o de ser um festival entre os melhores do Brasil?

Marcelo Damaso – Esse negócio de ser um dos melhores do Brasil é muito relativo. Isso foi um Box em uma matéria sobre festivais independentes na Revista Bravo, após o repórter ter vindo a convite do festival fazer a cobertura. Graças ao gosto dele, nós recebemos um destaque privilegiado, mas isso reflete muito mais um gosto pessoal de um jornalista especializado em música. Não to querendo fugir do título, eu acho legal que ele e muitas pessoas nos vejam assim. Mas temos que cair na real e saber que somos mais um festival, que faz tudo de maneira transparente e fazendo suas apostas, que é o papel de qualquer gestão cultural. Agora, é claro que temos nossas dificuldades, que são inúmeras e que nos fazem sempre refletir se é isso mesmo que queremos de nossas vidas. Mas gostamos do que fazemos, temos problemas como qualquer outra gestão desse tamanho, mas conseguimos superar tudo jogando limpo com todo mundo.

Durango95′ – A primeira iniciativa do festival em realizar seletivas em todo o Estado. Surpresa ou as dificuldades são ainda maiores? Como vocês percebem a receptibilidade desse novo público?

Marcelo Damaso – Ainda não sabemos disso, pois ainda não temos resultados e não ouvimos as bandas. Mas a classe artística das outras cidades se animou muito com essa chance que lhes foi dada. Para a gente é muito importante mapear o que o nosso estado produz. Imagina o que teria sido da música paraense se, nos idos dos anos 1970, alguém não tivesse ido a Barcarena descobrir um dos melhores guitarristas desse país, o Mestre Vieira?

Rio, pontes e overdrives – Assim como foi a confirmação de um dos maiores nome do ska mundial The Slackers 2010. Podemos esperar uma grande novidade para 2011?

Marcelo Damaso – O Festival trabalha mesmo com novidades, tanto que quase nunca repetimos bandas em festival. Estamos trabalhando para que o VI Festival Se Rasgum tenha ao menos três bandas internacionais.

Rio, pontes e overdrives – A cena independente vê nascer e morrer várias bandas brilhantes. Recentemente Supeguidis encerrou atividade e a banda Pública reclama da limitação da cena em sua própria cidade e o circuito com o público cada vez menor, sem apoio de algum órgão, mesmo a banda possuindo um bom trabalho de dedicação ao rock. Como você vê esse declínio de algumas bandas? O circuito autoral e independente está morrendo ou é cada vez mais difícil fazer rock?

Marcelo Damaso – Cara, está cada vez mais fácil ter uma banda do estilo que você quiser. Legal que o governo apóie shows gratuitos, crie ferramentas de difusão da música local, invista no que eles vêem que tem mais potencial. Mas acredito que essa reclamação é algo que demonstra mais cansaço do que alguém tentando embarreirar a carreira de alguém. Nunca se teve tanta força no rock que vcs chamam de independente ou alternativo. Hoje em dia cada capital do país tem seu festival. E quando não tem as bandas mesmo se mexem e fazem alguma coisa para mostrar seu som, pra ganhar público e “fortalecer a cena”. O problema vai ser sempre o de lidar com ego de artista, que passa por uma vaidade que vai além da compreensão das coisas mais simples. Todo mundo acha que é genial e que todo mundo tem que achar aquela pessoa genial, e quando isso não acontece é porque tem algo de errado com o mundo. Sei que não é esse o caso do Pública, que é uma banda muito acima da média que aparece no novo pop brasileiro. A grande merda é que hoje em dia ninguém sabe o próximo passo. Todo mundo acha que sabe, mas estamos todos pisando em ovos. Eu acho que uma banda hoje em dia tem mesmo que ouvir seus instintos, compor, tocar e tentar ser boa para satisfazer a sua vontade própria e não querer viver como a turma das gravadoras. Essa época já acabou e não vai mais voltar.

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| Edição e revisão por Filipe Larêdo.|