- Los Porongas – Festival Se Rasgum
O original desta entrevista está no blog do Durango95′. Abaixo o link para acesso.
Um militante da cena independente e autoral. Rio, pontes e overdrives entrevistou um dos maiores produtores culturais paraenses: Marcelo Damaso, Ele com um grupo de amigos tiveram a iniciativa de criar à Dançum Se Rasgum Produciones, a qual figura entre um dos mais importantes grupos do circuito nacional. Em 8 anos de atividade, o Se Rasgum produziu atrações nacionais e internacionais, o maior destaque para seu principal evento, o festival, realizado no segundo semestre de cada ano. Sem mais firulas, uma boa entrevista do “Rio, pontes e overdrives” com o produtor do festival.
Rio, pontes e poverdrives – Um dos maiores festivais de música independente do Brasil. O festival Se Rasgum chega a mais uma edição, no próximo semestre. O que podemos esperar de novidades? A ideia de seletivas, jurados e cada vez maior transparência e ecletismo maior de estilos?
Marcelo Damaso – De novidades que podemos adiantar é o local, o Hangar. O novo Governo finalmente está apoiando iniciativas que se estabeleceram nos últimos cinco anos dessa cidade, como o Festival Se Rasgum. Mas para a programação será o que se espera todo ano: novos nomes da música brasileira, cultura regional, resgate de nomes consagrados para o novo público, um pouco de ousadia e muitos shows bons. As seletivas desse ano serão bem maiores que do ano passado, e fomos até o interior pela primeira vez para tentar trazer novos nomes para o Festival Se Rasgum.
Rio, pontes e overdrives – Quais foram as maiores dificuldades do Se Rasgum no período para organizar um festival diversificado, planejar, manter um nome e ganhar cada vez maior evidência?
Marcelo Damaso – Nossa maior dificuldade até hoje é o público que não quer pagar ingresso. Todo mundo adora o Festival, quer ver ele acontecer todo ano, mas não gosta de pagar ingresso. Em cinco anos de Festival Se Rasgum nós NUNCA ganhamos dinheiro. NUNCA! Isso sim cansa e faz com que as coisas realmente se enfraqueçam.
Rio, pontes e overdrives – É um desafio organizar um festival com dimensão do Se Rasgum e lidar com uma cultura urbana cheia de peculiaridades, o que faz com que esse hibridismo na escolha das atrações dê certo no final das contas? Achas que a cultura paraense roqueira gosta ou aceita essas misturas?
Marcelo Damaso – Roqueiro bom é o que tem cabeça aberta. Ser radical é burrice, é se cercar de conceitos que vão te deixar limitado e não vão te fazer avançar em nada. A gente não tenta liderar nenhum movimento ou fazer com que as pessoas sejam obrigadas a aturar o que nós trazemos. Eu não entendi o que tu falaste com cultura urbana cheia de peculiaridades. Eu vejo no Pará uma cultura popular muito peculiar, cheia de riquezas e originalidade que precisam continuar vivas e aparecer mais para o resto do Brasil. É assim que o Festival Se Rasgum pensa.
- Festival Se Rasgum
Rio, pontes e overdrives – A estrutura física para a realização de um festival é mais complicada do que parece? Como é escolhido o tipo de equipamento ou pessoas aptas a manusear o som? Depende do pedido da banda ou não?
Marcelo Damaso – É bem complicada sim, mas algo que depois que se faz mais de duas vezes já começa a ficar fácil. Temos bons profissionais em Belém e procuramos trabalhar com os mesmos todos os anos, que tentam atender às demandas dos riders dos artistas que vem de fora. Raramente temos problema com equipamento aqui.
Rio, pontes e overdrives – Sendo o Se Rasgum uma empresa também, é difícil administrar um negócio desse tipo? Qual a sensação de ver esse processo de crescimento traduzido em resultados, como o de ser um festival entre os melhores do Brasil?
Marcelo Damaso – Esse negócio de ser um dos melhores do Brasil é muito relativo. Isso foi um Box em uma matéria sobre festivais independentes na Revista Bravo, após o repórter ter vindo a convite do festival fazer a cobertura. Graças ao gosto dele, nós recebemos um destaque privilegiado, mas isso reflete muito mais um gosto pessoal de um jornalista especializado em música. Não to querendo fugir do título, eu acho legal que ele e muitas pessoas nos vejam assim. Mas temos que cair na real e saber que somos mais um festival, que faz tudo de maneira transparente e fazendo suas apostas, que é o papel de qualquer gestão cultural. Agora, é claro que temos nossas dificuldades, que são inúmeras e que nos fazem sempre refletir se é isso mesmo que queremos de nossas vidas. Mas gostamos do que fazemos, temos problemas como qualquer outra gestão desse tamanho, mas conseguimos superar tudo jogando limpo com todo mundo.
Durango95′ – A primeira iniciativa do festival em realizar seletivas em todo o Estado. Surpresa ou as dificuldades são ainda maiores? Como vocês percebem a receptibilidade desse novo público?
Marcelo Damaso – Ainda não sabemos disso, pois ainda não temos resultados e não ouvimos as bandas. Mas a classe artística das outras cidades se animou muito com essa chance que lhes foi dada. Para a gente é muito importante mapear o que o nosso estado produz. Imagina o que teria sido da música paraense se, nos idos dos anos 1970, alguém não tivesse ido a Barcarena descobrir um dos melhores guitarristas desse país, o Mestre Vieira?
Rio, pontes e overdrives – Assim como foi a confirmação de um dos maiores nome do ska mundial The Slackers –2010. Podemos esperar uma grande novidade para 2011?
Marcelo Damaso – O Festival trabalha mesmo com novidades, tanto que quase nunca repetimos bandas em festival. Estamos trabalhando para que o VI Festival Se Rasgum tenha ao menos três bandas internacionais.
Rio, pontes e overdrives – A cena independente vê nascer e morrer várias bandas brilhantes. Recentemente Supeguidis encerrou atividade e a banda Pública reclama da limitação da cena em sua própria cidade e o circuito com o público cada vez menor, sem apoio de algum órgão, mesmo a banda possuindo um bom trabalho de dedicação ao rock. Como você vê esse declínio de algumas bandas? O circuito autoral e independente está morrendo ou é cada vez mais difícil fazer rock?
Marcelo Damaso – Cara, está cada vez mais fácil ter uma banda do estilo que você quiser. Legal que o governo apóie shows gratuitos, crie ferramentas de difusão da música local, invista no que eles vêem que tem mais potencial. Mas acredito que essa reclamação é algo que demonstra mais cansaço do que alguém tentando embarreirar a carreira de alguém. Nunca se teve tanta força no rock que vcs chamam de independente ou alternativo. Hoje em dia cada capital do país tem seu festival. E quando não tem as bandas mesmo se mexem e fazem alguma coisa para mostrar seu som, pra ganhar público e “fortalecer a cena”. O problema vai ser sempre o de lidar com ego de artista, que passa por uma vaidade que vai além da compreensão das coisas mais simples. Todo mundo acha que é genial e que todo mundo tem que achar aquela pessoa genial, e quando isso não acontece é porque tem algo de errado com o mundo. Sei que não é esse o caso do Pública, que é uma banda muito acima da média que aparece no novo pop brasileiro. A grande merda é que hoje em dia ninguém sabe o próximo passo. Todo mundo acha que sabe, mas estamos todos pisando em ovos. Eu acho que uma banda hoje em dia tem mesmo que ouvir seus instintos, compor, tocar e tentar ser boa para satisfazer a sua vontade própria e não querer viver como a turma das gravadoras. Essa época já acabou e não vai mais voltar.
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